sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

a língua toma o poder - parte I


em março de 1973 conheci fedora aberastury, depois de dez anos a
transitar por diferentes disciplinas(dança, expressão corporal, ginástica consciente)
na procura de uma maior compreensão de mim mesma e de algo para oferecer
aos meus semelhantes.
fedora era pianista, tinha sido discípula de cláudio arrau e rafael da silva, com os
quais tinha trabalhado por quinze anos nos estados unidos. pelo que me consta, a
escola de música de arrau na década dos quarenta abordava o corpo como um
instrumento de passagem, onde o relaxamento e a concentração proporcionariam ao
músculo o tônus necessário que abriria o caminho para a emoção. ela reconhecia
também como influência importantes a do bailarino rick hawkins, a de erwin piscator
e alguns psicanalistas seguidores de wilheim reich.
de volta à argentina, seus alunos de piano trabalhavam com ela a interpretação das
obras musicais. o fenômeno da interpretação ocupava seu pensamento na procura de
conseguir transmitir a obra de outro sem que deixasse de ser de outro, mas que fosse
do próprio intérprete ao mesmo tempo. a auto-observação mostrava-lhe que as tensões
que os seres humanos vão acumulando ao longo da vida os impedem de se expressar
livremente e, no caso específico dos músicos, isto às vezes é agravado pela quantidade
de horas que devem passar trabalhando com o instrumento, o que quase sempre os força
a posturas antinaturais. fedora compreendeu que o trabalho com o primeiro instrumento,
o próprio corpo, era imprescindível e botou literalmente mãos à obra. digo literalmente
porque foram as mãos o ponto de partida deste sistema. quando conheci fedora fazia
quase quinze anos que estava investigando. neste momento já trabalhava com músicos
de todos os instrumentos, e pessoas ligadas à dança e ao teatro.
texto: cristina suarez
música: era - in fine

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