sábado, 7 de janeiro de 2012

a língua toma o poder - parte II


logo após o primeiro encontro tive a certeza de que havia chegado
a um ponto de partida. a força com que fedora expunha suas idéias, seus olhos
e os estranhos resultados que aqueles pequenos exercícios provocaram em
mim me impressionaram fortemente. transcreverei aqui um trecho do meu
caderno de anotações sobre a primeira aula: "a primeira vez que soltei a língua
tive a sensação de entrar noutra dimensão. senti com clareza que esse era outro mundo
e tive medo. no dia seguinte, após a primeira aula, comecei a praticar os exercícios sozinha.
coloquei a língua na posição indicada e comecei a abrir e dobrar a terceira articulação dos
dedos das mãos; aos poucos a mão começa a tremer até ir desaparecendo, o corpo todo
treme também com uma violência que desconheço, sinto uma força enorme na região dos
ísquios que me puxa contra o banco onde estou sentada. fico assustada durante toda a
primeira semana".
naquela época eu fazia parte de um pequeno grupo de trabalho. eu e minhas companheiras
assistíamos às aulas uma vez por semana e juntas praticávamos os restantes dos dias,
registrávamos os acontecimentos e discutíamos sobre o acontecido. nossa vida girava em
torno do trabalho; isto nos permitiu um aprofundamento em um caminho onde o desconhecido
era a regra.
durante cinco anos trabalhamos juntas com absoluta dedicação aquilo que fazíamos. todos os
registros desse tempo têm uma vivacidade e um tom de constante assombro. sob o olhar de
fedora e em companhia das minhas companheiras, meu pensamento percorreu meu corpo
infinitas vezes, criando forças, despertando centros energéticos, abrindo as articulações.

texto: cristina suarez
música: era - the mass
                       sinfoni deo

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