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Doce, salgado,
amargo, ácido e picante: segundo a visão chinesa, são esses os cinco sabores
que permeiam tudo. Segundo os ayurvedas, existem mais dois, o insípido e o
adstringente, que os chineses englobam no doce e no ácido.
Mas esses sabores
não são somente do paladar, são sabores da vida! O poste, a chave de casa, o
sapato, o cabo do guarda-chuva têm sabor. Lágrima tem sabor diferente a cada
choradinha. Sabor é igualzinho a cor, a som, a cheiro, a sensação na pele:
existe independentemente da nossa vontade, nós é que o capturamos ou não
através dos sentidos. Você pode dizer que saboreia uma imagem, um momento, uma
música, uma declaração de amor e até coisas menos virtuosas, como a vingança:
“Vingança é um prato que se come frio”, diz o ditado, um tanto indigesto.
A memória pode
trazer o sabor amargo de um ressentimento. Já o desejo coloca o sabor do sexo
na boca, a propaganda vende um sabor de “quero mais”, o texto do artigo na
revista pode ser saboroso. E existe coisa pior do que sentir a vida insípida?
Pouco agradável, tediosa, monótona: sensaborona.
Outra palavra que
tem tudo a ver é gosto. Pode ser sinônimo de sabor quando se diz que algo tem
gosto de e de prazer quando se conjuga em verbo: gostei. Expande-se para
critérios de valor: bom gosto. Ou mau gosto, que é diferente de gosto ruim...
Sonia Hirsch – Bons Fluídos dez.2001
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