Também a arte, assim como qualquer outro ser da natureza, precisa crescer organicamente: ela jamais poderá ser criada por um ato da vontade.
Talvez um exemplo possa ilustrar esse método de ensino. Uma jovem alemã estudava pintura japonesa, no Japão, com o Mestre Morimura Gitô. Como havia feito escultura anteriormente, ela assimilou a parte técnica com facilidade. O Mestre, por sua parte, reconheceu o fato, porém não se desviou do seu Caminho. Quando ela chegava para a aula, ele ordenava seus pincéis, pulverizava a tinta na pedra de triturar, dispunha as cores e pintava-lhe um quadro, algum motivo, que ela deveria copiar até a próxima aula. Assim se passaram meses e meses, anos e anos. Depois de dois anos, finalmente, a estudante perdeu a paciência. Um dia ela surpreendeu o Mestre com um quadro de sua própria inspiração. Ele olhou o quadro durante muito tempo e, então, olhou para sua aluna durante mais tempo ainda. Sem proferir palavra, ele pegou seu pincel, mergulhou-o na tinta vermelha e traçou uma estreita linha sobre a "obra de arte". A moça ficou desapontadíssima. Como lhe havia parecido esplêndida a paisagem que havia pintado, com uma composição tão bem planejada! Meses mais tarde, o Mestre estava sentado na cada de verão de sua aluna. Enquanto ela preparava o chá, ele olhava criticamente para os desenhos dela, que estavam sobre a mesa. De repente, ele perguntou: "Qual é a origem deste?" - "Oh, não é nada, apenas um esboço, uma brincadeira" - foi a resposta. O Mestre ficou calado durante muito tempo. E, então, disse: "É este, este é o Caminho." Não é uma composição consciente que faz um quadro: longe disso. A pintura tem de vir de dentro, do coração. Ela surgirá tão logo o aluno atinja a maturidade; forma-se espontaneamente, sem intervenção.
Horst Hammitzch - O Zen na Arte da Cerimônia do Chá
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