Existe certa verdade na noção de transcender o ego: não significa destruir o ego, mas, sim, conectá-lo a alguma coisa maior. O pequeno ego não se evapora; permanece como o centro funcional da atividade no domínio convencional. Perder esse ego significa tornar-se um psicótico, não um sábio.
"Transcender o ego" significa, pois, em verdade, transcender incluíndo o ego num envolvimento mais profundo e mais elevado, primeiro na alma ou psiquismo mais profundo, depois na Testemunha ou Eu Superior. E, então, após a absorção nos níveis precedentes, envolver-se, incluir-se e abraçar-se na radiância do 'Um Sabor'.
Transcender não significa, portanto, "livrar-se" do pequeno ego, mas, ao contrário, habitar nele plenamente, vivê-lo com entusiasmo, usá-lo como veículo necessário, através do qual as grandes verdades podem ser transmitidas. Alma e espírito incluem o corpo, as emoções e a mente; não os eliminam.
Grosseiramente, podemos dizer que o ego não é uma obstrução ao Espírito, mas uma radiosa manifestação do Espírito. Não é necessário livrar-se do ego, mas, simplesmente, vivê-lo com certa intensidade. Quando a identificação transborda do ego para o Kosmos em geral, o ego descobre que o Atman individual é, de fato, da mesma espécie do Brahman, o Todo.
O Eu Superior não é, em verdade, um pequeno ego. E, assim, no caso de estarmos presos ao nosso pequeno ego, a morte e a transcendência são necessários. Os narcisistas são, simplesmente, pessoas cujos egos não são ainda suficientemente grandes para abraçar o Kosmos inteiro e, como compensação, tentam tornar-se o próprio centro do Kosmos.
Ken Wilber - do livro Um Sabor